Maquiagem, buquê de flores e tapete vermelho. O último fim de semana foi diferente para os idosos que moram em um lar em Cerquilho, no interior de São Paulo. No lugar das refeições e atividades tradicionais, os moradores participaram do casamento de dois dos colegas.
Wilma Silva do Carmo, de 62 anos, e Pedro Antônio da Rocha, de 66, se conheceram no Lar São José em 2019. Eles contaram ao g1 que o romance entre os dois começou nos jogos de bingo que são realizados toda semana.
“Ele é perito nisso. Começou a jogar bombom pra mim, bala, e foi indo até que deu namoro”, lembra a noiva.
“No começo eu não vi ‘malícia’ no que ele fazia, achei que era uma coisa normal, mas aos poucos ele foi. Aí chegou Natal e Ano Novo e fomos ver fogos no quiosque junto com as cuidadoras, aí aconteceu e eu aceitei. Ele foi esperto, e já começamos o ano juntos.”
De acordo com Wilma, meses depois, a ideia do casamento surgiu porque o casal ficava em alas separadas, masculina e feminina, mas queria começar a dormir junto. Os moradores conversaram com a coordenação do asilo, que prontamente aceitou a ideia.
“A gente queria ficar junto, mas para fazer uma coisa direitinho dentro do lar, a gente fez o casamento. Pra poder morar junto e não ficar uma coisa bagunçada, sabe? Então, agora temos um quarto e um banheiro”, explica Wilma.
Além dos recém-casados, o Lar São José abriga outro casal de idosos que dorme em um quarto separado dos demais internos. No entanto, eles não se conheceram no abrigo e já entraram no lar casados.
Casamento
A cerimônia de casamento foi realizada no último dia 2. Wilma contou que foi ao salão de beleza pela manhã, onde fez o cabelo, as unhas e a maquiagem. Quando voltou ao lar, a noiva encontrou o salão social da entidade já preparado para a cerimônia.
“Quando eu cheguei, ele já estava me esperando. Foi muito bonito, eu até chorei. Por isso eu agradeço toda a diretoria do lar porque não esperava que fosse tudo o que foi. Foi um dia completamente realizado para mim”, conta.
Todos os idosos do lar e funcionários participaram do casamento, além da filha e dos netos de Wilma e de alguns amigos do Pedro. De acordo com a entidade, a festa foi realizada seguindo os protocolos sanitários para evitar a disseminação da Covid-19 e todos os idosos já estão vacinados com a dose de reforço.
“Foi na hora do almoço. Teve churrasco e sobremesa, além das lembrancinhas do casamento. Também teve um conjunto tocando, só que eu não dancei. Eu não sei nem sair do lugar, mas o meu marido é pé de valsa”, brinca Wilma.
A coordenadora do abrigo, Daniele Provasi Xavier, explicou que a cerimônia de casamento foi feita com doações dos moradores. A cabeleireira que preparou Wilma, por exemplo, fez tudo de forma gratuita.
“A nossa entidade é muito querida no município, então a gente joga a ideia e eles aceitam. Essas parcerias são muito importantes porque fica caro comprar tudo, e é dessa forma que a gente consegue dar um dia especial para eles”, explica Daniele.
Parceiros
Além da felicidade que a cerimônia de casamento proporcionou aos idosos, Wilma contou que ter um companheiro dentro do lar a trouxe inúmeros benefícios.
“Quando a gente entrou aqui, foi um pouco assustador porque a gente era ativo na rua. Eu não parava em casa, eu fazia compras, então foi difícil ficar fechada. Aqui a gente não sai sozinho, só quando levam a gente de carro”, conta.
No mês passado, os internos do Lar São José fizeram um passeio pela primeira vez durante a pandemia de coronavírus. Eles foram visitar a plantação de girassóis que encantou a cidade.
Wilma e Pedro aproveitaram para tirar fotos românticas em meio às flores amarelas, e o ensaio fotográfico divertiu os moradores e funcionários da instituição.
Nem Wilma e nem Pedro já tinham se casado oficialmente antes da cerimônia realizada no lar. Para o noivo, a cerimônia também foi um momento especial.
“Fiquei feliz. Foi bem bonito, nós aproveitamos muito. E agora está tudo bem, graças a Deus”, relata.
“Nós nos encontramos e agora a gente conversa sobre os lugares por onde eu passei, onde ele estava. E é bem destino mesmo porque nós dois moramos perto em São Paulo, quando éramos adolescentes. Pode ser até que a gente tenha se encontrado na época, mas cada um seguiu um rumo”, completa Wilma.
Fonte: G1