O lançamento de esgoto sem tratamento compromete o trabalho de décadas dedicado à despoluição no Rio Sorocaba. A opinião é de especialistas expõe os problemas e também apresentam possíveis soluções para reverter o cenário.
Um relatório da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), divulgado em 2024, com referência a dados coleatados em 2023, aponta que qualidade da água é boa em Votorantim, mas fica apenas regular quando chega em Sorocaba (SP).
De acordo com o pesquisador da Universidade Estadual Paulista (Unip) Welber Senteio Smith, o atual problema de poluição pode colocar todos os esforços investidos no processo de despoluição em risco. “Compromete, sim. Com certeza.” Segundo ele, a situação pode ocorrer se nenhuma medida for tomada a tempo e com rapidez. “Mas eu não vejo uma luz no fim do túnel”, desabafa.
O especialista critica a gestão atual sobre o Meio Ambiente em Sorocaba (SP) e lamente que a cidade não tenha, em suas palavras, agenda ambiental, nem investimentos como o setor merece.
” Sorocaba vive um aumento exorbitante, um adensamento populacional sem freio, muitos empreendimentos imobiliários. Uma expansão, na verdade, muito complicada do ponto de vista de saneamento básico. Estamos vivendo o desenvolvimento a qualquer custo, não existe politicas publicas que priorizem o meio ambiente. Ou seja, a qualidade de vida em Sorocaba está de mal a pior. Não existe perspectiva.”
Ele diz ainda que, dentro das discussões em torno do Plano Diretor, se não ocorrer pressão dos órgãos ambientais, o projeto se tornará muito mais permissivo e, a médio prazo, Sorocaba perderá ainda mais qualidade ambiental.
Dentro dos problemas mencionados por Welber , como o lançamento de esgoto sem tratamento por imóveis no córrego Supiriri, que deságua no Rio Sorocaba, há situações que envolvem as estações de tratamento de esgoto.
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De acordo com ele, em função do crescimento da cidade, sem a capacidade de tratar todo o esgoto, há a redução da carga orgânica, que deveria ser próximo de 100%. Assim, “há a perda de eficiência a sua qualidade, vindo para 90%, 80%, até pior que isso. Essa é uma ótica”.
“A outra ótica é que a gente tem um processo que nunca antes existiu em Sorocaba, que é uma ocupação territorial por favelas, por bairros, enfim, e que não existe saneamento. E aí quem sofre com isso são os córregos, o solo, etc.”
Aumento da poluição
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André Cordeiro, mestre e doutor em engenharia ambiental e especialista em ecossistemas aquáticos e recursos hídricos, também concorda que com a necessidade de investimento no sistema de saneamento.
“O saneamento é uma atividade sem fim e que precisa de investimentos constantes e tem um vínculo muito grande com a forma com que a cidade cresce e expande, não só Sorocaba, mas também as cidades que estão na mesma bacia”, diz.
De acordo com ele, quando o investimento não acompanha o crescimento das cidades, a tendência é aumentar a poluição. “Da forma como a cidade de Sorocaba – e as outras cidades do entorno – cresce sem levar em conta a disponibilidade de água e a capacidade de coleta e tratamento de esgoto, somado aos problemas de drenagem e coleta de lixo, a tendência é a redução da qualidade de água do Rio Sorocaba”.
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O crescimento da cidade é outra preocupação. “Outra questão importante é que a melhoria da qualidade depende mais da forma que o município gerencia seu território do que da ação do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae), que tem nos seus quadros técnicos muito eficientes, mas que acabam ficando vendidos se o crescimento da cidade não leva em consideração as dificuldades do saneamento.”
André comenta também sobre a questão relacionada irrelevância da limitação do crescimento da cidade.
“Esta visão é completamente sem propósito e deslocada da realidade. Hoje a cidade já passa por graves problemas de saneamento e se não diminuirmos o ritmo de crescimento e adensamento os problemas só vão aumentar e reduzir muito a qualidade de vida, que é um dos atrativos do mercado imobiliário. Veja a questão da enchentes: há um efeito das mudanças climáticas mas a maior parte do problema é causada pela impermeabilização da cidade. As mudanças climáticas não conseguimos reverter, mas a impermeabilização ainda é possível.”
Para Leandro Morais, professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e especialista em tratamento de águas e de esgoto, ainda existem caminhos para reverter o cenário e impedir a poluição do rio.
Ele aponta os caminhos. “Verificar os pontos onde ainda despejo de esgoto sem tratamento no Rio Sorocaba e realizar esta coleta e promover o tratamento adequado. Assim, teria algo próximo do 100% de tratamento e cuidados com a qualidade da água no Rio Sorocaba .Pois, sabemos que já há uma ETA que trata a água do Rio para consumo.”
Água piora no trecho Sorocaba
Um relatório da Cetesb, de abril de 2024, com referência a anos anteriores, aponta que qualidade da água do Rio Sorocaba é boa em Votorantim, mas fica apenas regular quando passa por Sorocaba.
Conforme os resultados do monitoramento realizado companhia, tanto considerando o ano de 2023 como dos últimos cinco anos anteriores – 2018 e 2022-, o Rio Sorocaba manteve a categoria boa, no trecho em Votorantim.
A seguir, entretanto, em Sorocaba e Boituva, alcançou a categoria regular, indicando, conforme a Cetesb, contribuições da carga orgânica remanescente do município de Sorocaba. O relatório cita que isso ocorre “apesar dos seus elevados índices de coleta e tratamento de esgotos”.
Após Boituva, destaca-se a melhora na qualidade da água, nos trechos de Cerquilho e de Laranjal Paulista (SP), alcançando novamente a qualidade boa. “Ressalte-se que a média do IQA [Índice de Qualidade da Água] em 2023, em todos os pontos, com exceção do trecho em Votorantim, apresentou patamares um pouco acima da média histórica.”
O g1 teve acesso aos dados referente às coletas realizadas em dois pontos do Rio Sorocaba, no perímetro da cidade de Sorocaba. Os dados captados são de 2020 a 2023. A pedido da reportagem, os resultados foram analisados por especialista no assunto.
Conforme eles, sete substâncias foram encontradas acima do limite permitido. São elas:
- Oxigênio dissolvido;
- Cobre dissolvido;
- Alumínio dissolvido:
- Cobre total;
- Zinco total;
- Bário total;
- Manganês total.
Todas as ocorrência são de setembro de 2023. Ainda não há dados de 2024. Os pontos coletados são na ponte da Avenida Itavuvu, na zona norte de Sorocaba, e na ponte do Pinga-Pinga (oficialmente Ponte Daniela Cerávolo Aprá), na marginal Avenida Dom Aguirre.
As análises foram feitas com base na resolução 357 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama).
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O que diz o Saae
O Saae negou que haja qualquer problemas com relação à qualidade da água do Rio Sorocaba. “O Saae/Sorocaba informa que a qualidade do Rio Sorocaba está em sua melhor fase. A autarquia vem intensificando a investigação para identificar possíveis lançamentos de esgotos clandestinos no rio Sorocaba, o que vem ao encontro da melhora crescente da qualidade da água. Lembrando que o rio ainda recebe contribuição de córregos que chegam de outros municípios.”
Questionada, autarquia disse que a rede de esgoto da cidade comporta o crescimento do município. “A rede de esgoto atual da cidade atende e comporta a contribuição de esgoto, sendo que o Saae/Sorocaba também vem monitorando e atuando no redimensionamento de emissários antigos, para que esta situação se mantenha em controle e o sistema de escoamento sanitário melhore gradativamente. Isso, a atender a velocidade de crescimento do município, sem deixar de lado a execução de redes em bairros novos e carentes de saneamento.”
Ainda em nota, o Saae disse que, junto da Prefeitura de Sorocaba, “mantêm um cronograma contínuo de investimentos, para garantir a manutenção dos índices de excelência na oferta de saneamento básico à população de Sorocaba, nas próximas décadas”.
“Aliás, os índices de atendimento à população quanto ao abastecimento público e coleta de esgoto em Sorocaba estão entre os mais altos do Brasil, sendo considerados “serviços universalizados” e, aliando eficiência à preservação ambiental.”
A Companhia Ituana de Saneamento (CIS) foi procurada pelo g1 para comentar sobre o esgoto que lança sem tratamento no Rio Pirajibu, mas não se manifestou até a publicação da reportagem.
Problema é tratado na Justiça
A situação do descarte de esgoto no Rio Sorocaba é tão grave que a questão foi parar na Justiça. Há, inclusive, uma determinação para que se cesse na cidades os prejuízos causados nos últimos anos.
Conforme o MP, o Saae está provocando danos ao meio ambiente, com poluição pelo despejo de esgoto sanitário sem tratamento ou com tratamento inadequado, fora dos padrões estabelecidos pela legislação.
A origem dos problemas está em quatro estações de tratamento instaladas na cidade. A Promotoria de Justiça relata prejuízo à saúde pública e ao meio ambiente. O Saae, por sua vez, alega sucateamento dos equipamentos operados nas ETEs Pitico, Itanguá, S2 e Aparecidinha.
Flagrantes de descarte irregular
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Três flagrantes de despejo de esgoto foram mostrados pelo g1 no córrego que passa por trás da Capela João de Camargo, no Jardim Faculdade, e que deságua no Rio Sorocaba , somente em 2024.
A estimativa, conforme apurado pela reportagem, é de que, neste período, mais de 100 milhões de litros de esgoto, sem qualquer tratamento, foram lançados no local. O caso é investigado pelo Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP).
Fonte: G1





