Parlamentares da oposição articulam apoio de lideranças da Câmara dos Deputados para a instalação imediata da CPI do MST na Casa. As movimentações acontecem após 1,7 mil famílias invadirem três terrenos produtivos da empresa Suzano Papel e Celulose, nos municípios de Teixeira de Freitas, Mucuri e Caravelas, no sul da Bahia. A invasão das terras ocorreu em fevereiro deste ano, cerca de 60 dias após o início do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e durou pouco mais de uma semana. Segundo comunicado do Movimento Sem Terra (MST), as famílias “reivindicam a desapropriação imediata dos latifúndios para fins de reforma agrária” e denunciavam a monocultura de eucalipto na região e a concentração de terras por fazendeiros e empresas do agronegócio na Bahia. Os lotes foram desocupados após determinação da Justiça. Porém, o episódio cria uma saia justa para o Palácio do Planalto e dá munição para críticos do governo federal, que trabalha para viabilizar o funcionamento da comissão parlamentar de inquérito e transformá-la em um foco de desgaste para a gestão Lula 3 e aliados do petista. “Qual o papel do governo federal nessas invasões? É de omissão? É de apoio? Se não é, por que não está tomando nenhuma providência relativa?”, questionou o deputado federal Tenente-Coronel Zucco (Republicanos-RS), autor do requerimento protocolado na Câmara, em entrevista ao Jornal da Manhã, da Jovem Pan News. “Não podemos permitir [invasões] como foi em Suzano, em uma plantação de eucalipto produtiva. E mesmo que não seja, não cabe ao Movimento dos Sem Terra ou a outros movimentos de luta pela terra saírem invadindo porque eles decidem”, acrescenta o político gaúcho.
O Palácio do Planalto acompanha de perto as movimentações e possíveis desdobramentos da comissão. Presumindo os reflexos negativos da invasão dos terrenos da Suzano, o governo tentou intervir e articular as negociações para a desocupação das terras, mas ficou longe de resolver o conflito. Em 8 de março, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, se reuniu representantes da empresa de celulose e do MST, mas, ao fim do encontro, disse apenas que a pasta iria estabelecer uma “mesa de negociações”, com o diálogo retomado. Um novo encontro será realizado no dia 28 deste mês. “O respeito ao direito de propriedade será uma tônica desses atores aqui. A Suzano reconhece as obrigações assumidas naqueles acordos (de 2011) e agora vai discutir os modos e os meios de execução, juntamente com o governo federal”, completou. Apesar dos esforços, a avaliação é que o episódio pegou mal para a imagem do governo, apontado por eleitores como conivente às invasões. O mal-estar também é reforçado pelo fato de os terrenos serem produtivos, destoando dos argumentos usados por Lula na campanha eleitoral. “Ué, Lula não tinha dito que os ‘movimentos sociais’ terroristas ‘não invadiam terras produtivas’?”, questionou a deputada Carla Zambelli (PL-SP), nas redes sociais. Em último aspecto, o Planalto também terá que lidar com as expectativas do MST, que falam, em um comunicado divulgado nesta semana, em “sinal de alerta” diante da suposta “demora do governo federal” para nomear a presidência do Incra e alertam para a preocupação das famílias em relação à reforma agraria. Caberá a Lula – e seus articuladores – atender às necessidades dos movimentos e, simultaneamente, enfrentar os reflexos políticos das invasões – dentro e fora do Legislativo.