Momentos de avaliação ajudam a manter a empresa no seu planejamento, ao mesmo tempo em que aumentam as chances de usar oportunidades a favor dos seus objetivos.
No passado, o processo de traçar uma rota no mapa e seguir em frente sem questionar era considerado o mais recomendável, por ser indicativo de uma decisão tomada com firmeza. A boa notícia é que conseguimos superar essa camisa de força. Avaliar se o caminho escolhido é o melhor não apenas faz parte da rotina, como também é sinônimo de inteligência, porque permite incluir outros elementos ambientais e circunstanciais na equação de decisão. Recalcular a rota ainda no meio do caminho permite, por exemplo, escapar de perigos, evitar bloqueios e chegar mais cedo ao seu destino.
Na vida corporativa, o ideal é deixar para trás o velho costume de fazer planos e avaliações uma única vez por ano e viver na mesma premissa do Waze: recalculando rotas – mas mantendo o destino definido no começo da jornada.
Um estudo feito em Harvard apontou que 40% das pessoas estipulam metas para serem alcançadas no ano novo, mas somente 8% conseguem mantê-las. Pode haver aí uma dissonância entre a expectativa do que pode ser realizado e o que efetivamente se consegue fazer. Mesmo assim, os números trazem reflexões. É triste notar que menos de um décimo das pessoas consegue atingir seus objetivos, mas o realmente desolador é ver que 60% nem sequer estabelece metas. Afinal, sem saber para onde estamos indo, fica difícil saber se já chegamos lá.
A visualização do futuro por meio do estabelecimento de metas não pode cancelar a nossa obrigação de viver intensamente o presente. A dinâmica ideal é estarmos focados no presente, enquanto trabalhamos para atingir nossos objetivos. É exatamente como dirigir: você sabe para onde vai, mas tem que prestar atenção em cada metro do caminho. Lembre-se de que planejamento todos fazem, mas a execução é onde muitos falham.
Sou montanhista, e o processo de subir uma montanha demonstra bem essa mecânica de incluir o futuro no presente, enquanto se vive intensamente o momento. Quando o objetivo de chegar ao topo de uma montanha é estabelecido, ele se torna uma referência fixa. Aí, cada passo passa a ser sua responsabilidade. O foco é realizar a escalada. A rota para chegar até o cume e o ritmo de subida vão sendo ajustados conforme as condições do clima, o cansaço físico e a avaliação do guia local. O interessante é que os conselhos mais frequentes dos guias são em relação ao momento presente. Eles sempre dizem: aproveite o momento, olhe a paisagem, vá devagar, não se preocupe.
Aproveitar o momento tem tudo a ver com a avaliação dos seus rumos. Conforme o meio do ano se aproxima, é uma boa hora para refletir sobre o que 2022 veio nos ensinar. Vale parar um pouco para contemplar a trajetória até o momento, avaliar conquistas tanto quanto desvios e excessos, e determinar o que se tornou obsoleto ou desnecessário.
É hora de limparmos nossas gavetas físicas e mentais e abrirmos nosso espaço para novos ciclos. Muitas vezes nos sabotamos e dificultamos o processo de eliminação, mas ele é tão necessário quanto o processo do ganho. Se recusarmos nos desprender do que nos bloqueia, do que nos impede, inevitavelmente perderemos a chance de sermos melhores.
O mercado vem mudando com enorme aceleração. A pandemia, a guerra na Ucrânia, a inflação em escalada mundial – tudo isso impacta os negócios, porque atinge as pessoas nas suas rotinas. Parece distante, mas a guerra na Ucrânia está, de fato, afetando o preço do pãozinho na padaria da esquina. Tudo isso é inesperado, gera impactos e precisa ser incorporado ao planejamento corporativo imediatamente. Deixar para depois pode ser tarde demais.
Esses fatos inesperados da macroeconomia podem gerar ações internas nas empresas – como aulas de educação financeira para tempos de inflação – e também podem inspirar novos produtos ou promoções. É importante perceber que adaptações e projetos pontuais não são desvio do planejamento feito no ano anterior. São apenas uma forma de ser mais produtivo e conseguir atingir seus objetivos antes que não haja mais tempo hábil para isso.
Por isso, aproveite o final do segundo trimestre, a entrada do inverno, enfim, esse marco do calendário como ocasião para refletir intensamente (e com honestidade) para dar fim àquilo que não faz mais sentido na sua vida. Desapegar pode ser difícil, mas não é impossível. Pense que, sem travas no seu potencial, você consegue evoluir nos seus projetos com mais facilidade. Fique somente com as rotinas, pensamentos e projetos que importam e que fortalecem você – tanto como pessoa física, quanto para a sua empresa.
A abundância de possibilidades e de caminhos não pode ser uma distração e deve, sim, ser convertida em vantagem para atingirmos nossas metas enquanto curtimos a paisagem durante a viagem.
* Rodrigo Rocha é CEO da Amil Dental, escritor e montanhista.
FONTE: Época Negócios