O governo de transição e o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já se movimentam no Congresso Nacional e também para formar a equipe de ministros que vai comandar o Brasil a partir de 2023. Sobre os desafios econômicos deste período e as expectativas da nova gestão petista, o Jornal da Manhã, da Jovem Pan News, entrevistou o ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Cotado para assumir parte da pasta econômica novamente, o economista descartou por hora a possibilidade de compor o governo Lula: “Se eu sou candidato a ministro da fazenda? Não, não sou candidato a ministro. Eu estou na atividade privada, estou muito bem (…) Estou satisfeito e gratificado na atividade privada. Evidentemente que eu sempre sigo preparado para o serviço público e qualquer convite eu analiso quando ocorre. Eu não trabalho e nem perco tempo com hipóteses. O fato concreto é que estou na atividade privada e estou muito bem”.
“É um momento importante para o Brasil com definição do novo programa de governo, da nova via, das primeiras medidas discutidas. Todos esperamos que o país caminhe na direção correta, de maneira que nós possamos ter aquilo que aconteceu durante o primeiro mandato do Lula, que foi o crescimento e criação de emprego em níveis não repetidos desde então. É o momento de discussão e expectativas sobre as decisões e o direcionamento a ser discutido”, analisou Meirelles. Para o ex-ministro a PEC da Transição é fundamental para cumprir promessas de campanha e readequar o orçamento de 2023: “Por exemplo, a manutenção do auxílio de R$ 600 é absolutamente fundamental para as famílias que já estão recebendo e precisam disso no momento de alto desemprego. O auxílio também às crianças e toda uma série de questões orçamentárias que foram deixadas por esse governo, somado tudo, chega-se a algo próximo a R$ 170 bilhões. Mas é importante mencionar que tudo isso são números preliminares”.
Apesar do alto volume de gastos na transição para o governo Lula, Meirelles pondera que isso não significa falta de responsabilidade fiscal e corte de gastos no futuro: “Nós teremos uma excepcionalidade neste ano, o que não é uma licença para gastar livremente. É uma excepcionalidade de subida e uma volta à normalidade, responsabilidade e controle fiscal a partir de 2024. Agora será um momento responsável, desde que restrito ao ano e com valores muito bem definidos. A partir daí, existem uma série de coisas para serem feitas. Por exemplo, existe um grande número de estatais que já perderam a finalidade. Por exemplo, a estatal que foi construída para constituir o trem bala, há mais de 10 anos, e que não foi viável. Mas a estatal continua lá, com orçamento, pessoal, prédio, despesas e etc. Tem 30 a 40 empresas nessas condições e que podem ser fechadas sem prejuízo ao país”.
“Eu mencionei a questão das empresas estatais que já perderam a finalidade exatamente porque isso foi mencionado pelo próprio presidente Lula. Ele mencionou as empresas que só dão prejuízo. Isso significa que aquelas empresas já perderam a finalidade e existem só para gerar despesas e não geram mais receita. Existe uma expectativa que pode se configurar positiva. Por exemplo, se nós recordarmos o primeiro mandato do presidente lula foi um mandato que ele trabalhou com extrema responsabilidade fiscal. E se nós pegarmos os oito anos do governo ele, quando eu inclusive fui presidente do Banco Central, o Brasil criou 11 milhões de empregos. Nos 8 anos, cresceu em média 4% ao ano. Acumulamos US$ 300 bilhões de reservas internacionais. O país não só cresceu, como saiu forte daquele período. É possível sim fazer uma conjugação da responsabilidade fiscal com a responsabilidade social”, defendeu.
O economista ainda analisou o atual cenário econômico mundial, com expectativa de atividade econômica baixa e recessão em alguns países: “Principal desafio é exatamente a inflação e a falta de suprimento de alguns bens. Ficou muito conhecida a questão dos chips. Os chips faltaram por conta de problemas de produção em alguns países. Nós temos desde problemas de desorganização da cadeia mundial de produção em função da pandemia, até questões como a política de Covid zero na China, que prejudica em alguns momentos a atividade da China de maneira importante. Portanto, nós temos uma série de desafios nesse aspecto. O banco central americano está aumentando os juros, exatamente para segurar a inflação americana, porque lá existe um outro componente que é a grande ingestão de recursos do governo na economia, segundo o programa de governo do Joe Biden, o que está gerando uma pressão de demanda”.