Com a dificuldade eleitoral do governador de São Paulo e candidato à reeleição, Rodrigo Garcia (PSDB), para se viabilizar, a campanha do ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos) tenta atrair apoiadores do tucano já no primeiro turno no interior do Estado. No fim de semana, o prefeito de Marília, Daniel Alonso, fundador do PSDB, deixou a legenda para se filiar ao PL e apoiar Tarcísio.
Marília é uma cidade média do interior, com mais de 240 mil habitantes. O apoio a Tarcísio foi comemorado por bolsonaristas como um indicativo de que outros aliados de Garcia poderão migrar para a campanha do ex-ministro, se o governador continuar em desvantagem nas pesquisas.
O prefeito de Marília avalia que o PSDB está desgastado no interior do Estado, depois de sete gestões consecutivas no governo, desde 1995, e diz que se Rodrigo Garcia tivesse sido candidato por outro partido, como o União Brasil (ex-DEM, onde estava filiado), teria mais chances.
“Infelizmente pesou contra ele o PSDB”, diz o ex-tucano. Alonso afirma que dificilmente haverá uma adesão aberta e em massa de prefeitos do PSDB e de partidos aliados de Garcia à campanha de Tarcísio no primeiro turno, porque esses prefeitos dependem de repasses do Estado e temem uma retaliação.
No entanto, diz ver no interior um apoio informal ao ex-ministro, apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL).
“Esse repasse [de recursos pelo Estado] segura os prefeitos. Mas é como um cheque pré-datado. A gente fica pensando: será que vai ter fundo no futuro?”, afirma. “Nas ruas, ninguém quer saber de campanha do PSDB.”
Alonso reclama da saída de quadros históricos do partido, como o ex-governador Geraldo Alckmin, que foi para o PSB e hoje é vice na chapa presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e avalia que o partido se distanciou daquilo que está definido em seu manifesto de criação, o lema “longe das benesses oficiais, mas perto do pulsar das ruas”.
“Hoje o partido tem muitos projetos pessoais, de deputados e do governador que só pensam em se reeleger”, disse o prefeito. “O PSDB está há quase 30 anos no poder e é um ciclo que se está se fechando. O partido sequer viabilizou um candidato a presidente.”
A campanha de Garcia minimiza o apoio de Alonso a Tarcísio e diz ter o apoio de 540 prefeitos e de 1,1 mil candidatos a deputado estadual e federal dos partidos aliados.
Garcia se torna alvo preferencial dos adversários
Em terceiro lugar nas pesquisas, Garcia tornou-se o alvo preferencial dos ataques do candidato do PT, Fernando Haddad, e de Tarcísio de Freitas, que tentam consolidar um cenário de segundo turno entre o candidato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o de Bolsonaro em São Paulo. No levantamento mais recente do Ipec, da semana passada, Haddad lidera com 36% das intenções de voto, seguido por Tarcísio, com 21%, e por Garcia, que tem 14%.
Até mesmo a vida familiar de Rodrigo Garcia, com a prisão do irmão dele, o Marco Aurélio Garcia, por envolvimento em um esquema de máfia do ISS na Prefeitura de São Paulo, passou a ser explorada pelos adversários do tucano.
Para tentar melhorar as intenções de voto, o tucano tem omitido seu antecessor, João Doria (PSDB), que deixou o governo em março com alta reprovação, e tem revisado medidas impopulares tomadas pelo ex-governador tucano. Ontem, Garcia anunciou o fim do desconto da aposentadoria para uma parte dos servidores públicos, que ganham até R$ 3,4 mil, a partir de 2023.
A reforma da Previdência feita por Doria em 2020 tem sido criticada pelos funcionários públicos estaduais, que reclamam do “confisco da aposentadoria”.
O governador tem reforçado o discurso de que é diferente de Doria. Em entrevistas, diz que não é um “lacrador de rede social” e que nunca foi um político “conflituoso”. No entanto, os adversários de Garcia exploram a gestão conjunta dos dois tucanos.
O atual governador é vinculado ao aumento de impostos de alimentos e de remédios e da elevação do IPVA durante a pandemia, além da paralisação de obras de infraestrutura e de transporte e da fila de mais de um milhão de procedimentos na área da saúde.
Garcia apostava no início da propaganda na TV para reverter sua desvantagem em relação a Tarcísio de Freitas. Mas o dobro de tempo na TV e no rádio, além do fato de estar no comando do governo do Estado, ainda não foram suficientes para mudar o quadro eleitoral.
A campanha de Garcia é a que mais gastou até agora. Foram gastos mais de R$ 20,9 milhões, mais do que os R$ 18,9 milhões arrecadados pela campanha. Haddad arrecadou R$ 24,7 milhões e tem despesas contratadas de R$ 17,3 milhões. Já Tarcísio recebeu R$ 9,7 milhões e gastou R$ 14,9 milhões.
O desempenho de Garcia tem colocado em alerta dirigentes tucanos e o PSDB destinou até agora para a campanha menos recursos (R$ 8,7 milhões) do que o União Brasil (R$ 10 milhões), por exemplo.
O tucano vive uma situação diferente dos demais governadores que tentam a reeleição no país. Dos 19 governadores que concorrem a um novo mandato, 16 lideram a disputa de forma isolada. Garcia é o único que está atrás de seus adversários.
Garcia aposta em ataques a Tarcísio
Diante desse cenário desfavorável, a campanha de Garcia começa uma nova estratégia, mais agressiva em relação a Tarcísio de Freitas. Os dois disputam uma vaga no segundo turno contra Haddad. A mudança de estratégia foi tema do “Bastidores da Política” da semana passada.
A propaganda do tucano diz que “ninguém governa sozinho” e vincula Tarcísio ao ex-prefeito Gilberto Kassab; ao ex-deputado Eduardo Cunha, que foi preso durante a operação Lava-Jato; aos filhos de Bolsonaro, que são investigados em um esquema de rachadinha, e até mesmo ao deputado estadual Frederico D’Avila, que xingou o Papa Francisco de “vagabundo”.
Já a campanha de Tarcísio reforça na TV e no rádio problemas como o patrimônio oculto do governador, registrado em nome de uma empresa do qual ele é sócio, e o irmão que foi preso por atuar em um esquema de corrupção. Haddad também tem explorado o vínculo político de Rodrigo Garcia com os ex-prefeitos Paulo Maluf e Gilberto Kassab.
Fonte: Valor na CBN